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segunda-feira, 2 de outubro de 2023

Ancestralidade, Espiritualidade e Arte

Por Fábio Seabra

 

Foto: Acervo Pessoal
Definição formal de:

-Ancestralidade se refere aos antepassados ou antecessores. O que se recebeu das gerações anteriores; hereditariedade. 

-Espiritualidade pode ser definida como uma "propensão humana a buscar significado para a vida por meio de conceitos que transcendem o tangível, à procura de um sentido de conexão com algo maior que si próprio". A espiritualidade pode ou não estar ligada a uma vivência religiosa.

-Arte é uma forma de o ser humano expressar suas emoções, sua história e sua cultura através de alguns valores estéticos, como beleza, harmonia, equilíbrio.

AGORA OS MEUS CONCEITOS SOBRE ESSA MISTURA, TOMANDO COMO EXEMPLO UMA DAS CULTURAS QUE VIERAM PARA O BRASIL, O POVO YORUBÁ, DENTRE TANTAS COMO O POVO BANTU (CONGO/ANGOLA) E OS FON BGE, CHAMADOS DE JEJE (ESTRANGEIROS) PELO POVO YORUBÁ. SEM CITAR OS MULÇULMANOS E INÚMEROS OUTRO POVOS.

Para começar vamos discorrer sobre a cultura Yorubá, muito resumidamente. 

É uma cultura rica e com bases na ancestralidade, originária de determinadas regiões da Nigéria e que também exerceu influência em muitas outras partes da África e do mundo. Ela possui uma forte conexão entre antepassado, espiritualidade e arte. Vamos explorar como esses elementos interagem na cultura Yorubá:               

Começando por Ancestralidade, os chamados Egungun:

Os Yoruba têm um profundo respeito pela ancestralidade. Eles acreditam que seus predecessores desempenham um papel significativo em suas vidas e através do culto aos ancestrais, chamados de Egungun, que são os espíritos dos mortos, os quais honram e se comunicam frequentemente pedindo conselhos e orientações. Isso é feito através de cerimônias, danças e rituais específicos.

A arte desempenha um papel crucial nesse formato de culto, uma vez que máscaras e trajes elaborados são frequentemente usados durante as cerimônias de invocação, além dos cantos e danças que fazem parte da ritualística.

Atrelados aos ancestrais estão sua religiosidade que é ligada ao culto dos Orixás e Ifá, cumprindo cada um o seu papel na sociedade religiosa e como um todo:

A espiritualidade Yorubá é central para sua cultura e está ligada ao dia a dia do povo. É social, é política e é uma expressão, forma, de vida. Ela envolve a adoração de divindades conhecidas como Orixás, que representam forças da natureza, elementos e aspectos da vida humana.

O sistema oracular se chama Ifá, mas temos também os búzios e os obis, variando de família para família, de região para região, onde o culto apresenta suas particularidades. Tudo isso é parte importante da espiritualidade Iorubana. O oráculo é usado para buscar orientação divina e é conduzido por sacerdotes chamados babalawos (oluwo).

A arte, também nesse caso, desempenha um papel significativo na representação visual dos Orixás e divindades, pois, esculturas, pinturas e máscaras frequentemente retratam essas entidades.                   

Na Arte Yorubá que se produz é, basicamente, escultura de madeira, ferro ou argila, dança, música, joias e tecelagem sendo todas elas altamente valorizadas, pois compõem uma forma de expressão espiritual. São criadas com grande habilidade e significado simbólico.

A dança é parte integrante da expressão artística e espiritual dos Yoruba. Rituais dançantes são realizados em honra aos Orixás e durante cerimônias importantes.

A tecelagem é outra forma de arte importante nessa cultura e culto. Tecidos coloridos e padrões complexos são usados em trajes cerimoniais e, frequentemente, comunicam status social e identidade. A arte é usada para representar os deuses e espíritos, bem como para honrar os antepassados. A espiritualidade é incorporada à vida diária desse povo onde se obtém uma rica fusão de religião, ancestralidade e arte. 

AGORA FALEMOS DE BRASIL 

O Candomblé:

É uma das religiões afro-brasileiras mais influentes e significativas que emergiu da diáspora africana no Brasil. Sua formação envolveu a fusão de diversas tradições religiosas africanas, que foram trazidas pelos escravos e, ao longo do tempo, fundidas em uma religião única. O Candomblé, essa religião tradicionalmente brasileira, teve e continua a ter, um impacto profundo em várias áreas da cultura brasileira, deixando um legado significativo para a sociedade como um todo, que são vastos e abrangem diversas áreas, incluindo: música, dança, religião, culinária, linguagem, arte e muito mais.                      

Cultura e Identidade:

O Candomblé desempenhou um papel fundamental na preservação da identidade cultural dos afro-brasileiros. Ele ajudou a manter vivas as tradições, línguas, músicas, danças e mitos africanos que foram trazidos para o Brasil durante a época da escravidão.

A religião também contribuiu para a valorização da beleza negra e da herança africana, promovendo uma maior autoestima entre a comunidade afro-brasileira

Política e Ativismo:

O Candomblé, historicamente, foi alvo de perseguição e discriminação no Brasil, e ainda o é. No entanto, essa perseguição levou à formação de movimentos de resistência e ativismo por parte dos praticantes do Candomblé e de outros grupos afro-religiosos e mesmo aqueles que não possuem envolvimento com a religião, encontram nela argumentos de valorização da cultura preta em geral.

Hoje em dia, o Candomblé e outras religiões afro-brasileiras como a Umbanda, Quimbanda, Batuque, Xambá, Xangôs, Jurema, entre outras, desempenham um papel importante na luta contra a intolerância e o racismo estrutural.

Por ser o Candomblé uma religião que valoriza a conexão com os espíritos, a natureza e, principalmente, a ancestralidade, o que se perdeu durante o período do tráfico negreiro entre os séculos XVI e XIX, foi ludicamente, resgatado através da cultura de terreiro. Esse fato acabou por influenciar a religiosidade de muitos brasileiros, mesmo aqueles que não são praticantes do Candomblé, mas encontram nele as referências ancestrais que lhes foram roubadas.

Arte e Expressão Cultural:

O Candomblé é conhecido por suas cerimônias com rituais vibrantes, dançantes, musicais e com trajes alegres e coloridos, transbordando ludicidade. Essas expressões artísticas influenciaram a cultura brasileira como um todo, contribuindo para a riqueza e diversidade do cenário artístico do país.

Muitos artistas brasileiros, tanto na música quanto nas artes visuais, incorporaram elementos do Candomblé e da cultura afro-brasileira em suas obras, por muitas vezes até mesmo sem se darem conta.

Em resumo, o Candomblé e outras religiões afro-brasileiras formam um legado profundo e duradouro na cultura brasileira. Eles influenciaram a forma como os brasileiros percebem sua própria identidade, contribuíram para o ativismo em prol dos direitos civis e da igualdade racial, moldaram a espiritualidade e a religiosidade no país e enriqueceram a cena cultural e artística do Brasil. Esse legado é parte preponderante na herança cultural do Brasil e continua a desempenhar um papel vital na construção da identidade nacional.

P.S.

No Brasil, as religiões de matriz africana desempenham um papel significativo na vida cultural e espiritual do país. Algumas das principais religiões de matriz africana no Brasil incluem:

·         O Candomblé é uma das religiões de matriz africana mais antigas e influentes no Brasil. Originou-se na região da Bahia e é mais comum nas Regiões Sudeste e Nordeste do país. Os praticantes do Candomblé adoram divindades conhecidas como Orixás, N’Kisis e Voduns, para os quais realizam rituais complexos que envolvem danças, cânticos, oferendas e possessões espirituais.

·         A Umbanda é uma religião sincrética que mistura elementos do Candomblé, do Espiritismo, do Catolicismo, do Xamanismo dos povos originários, cultura cigana, ... . Ela é praticada em todo o Brasil e é conhecida por sua ênfase na incorporação de espíritos benevolentes chamadas de "guias" durante cerimônias religiosas.

·         A Quimbanda é uma religião que compartilha algumas semelhanças com a Umbanda, mas muitas vezes é associada a práticas mais voltadas para o culto de entidades mais ligadas a causas terrenas e mais parciais, associadas, ERRONEAMENTE, a figura do Orixá  Exu dos Yoruba. Ela é menos difundida e mais estigmatizada do que o Candomblé e a Umbanda.

·         O Batuque é uma religião afro-brasileira praticada, principalmente, no Rio Grande do Sul. Ela tem raízes africanas e, também, incorpora elementos indígenas. Os praticantes do Batuque adoram divindades conhecidas como Orixás e realizam rituais que envolvem danças e música.

·         O Tambor de Mina. Esta religião é encontrada principalmente no estado do Maranhão. Ela é uma forma de religião afro-brasileira que envolve rituais com tambores e cânticos em homenagem aos Orixás, Voduns e espíritos ancestrais.

·         O Xangô do Nordeste é uma variante do Candomblé que é praticada principalmente na região nordeste do Brasil. Ele adora os Orixás e tem suas próprias características distintas e tradições. 

Além das religiões mencionadas acima, existem cultos afro-brasileiros menos conhecidos e regionais, muitos dos quais são praticados em comunidades específicas em diferentes partes do Brasil. 

É importante notar que as religiões de matriz africana no Brasil, frequentemente, se entrelaçam com outras religiões e práticas espirituais, criando uma rica tapeçaria de tradições sincréticas. Além disso, essas religiões desempenharam um papel significativo na preservação da cultura africana no Brasil e na promoção da identidade afro-brasileira. 

4 comentários:

  1. Interessante texto que leva a pensar e buscar bases que o endosse e/ou critique, além de suscitar pesquisa que aprofunde a pesquisa sobre o vasto universo preto que herdamos.

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  2. Bom dia! Apesar de gostar do texto, seria mais interessante explicitar fontes e datas para torná-lo mais palatável e crível. É isso?

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    1. Obrigado. Porém, não foi minha intenção que esse texto fosse acadêmico e sim, um alerta para o aumento de nossa sensibilidade cultural, abrindo possibilidades de pesquisa para quem deseja algo mais aprofundado. Fabio Seabra.

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E aí!? O que vc tem a dizer sobre isso?