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terça-feira, 17 de outubro de 2023

A impactante apresentação do 1º episódio da série “Resistência Negra” na 25ª edição do Festival do Rio

Por Reposted da ASCOM

Fotos Rozangela Silva

Nem a noite chuvosa de sexta-feira (13) foi barreira para lotar o Cine Odeon, no Centro (RJ) para avant première de "Resistência Negra", sessão especial para convidados, do 1º episódio da série Resistência Negra, no Festival do Rio, série que o Globoplay prepara para estrear em novembro.

Com cinco episódios, apresentada por Djonga e Larissa Luz, sobre movimento negro. O objetivo da série é narrar a história dos movimentos negros no país. Com direção geral é Mayara Aguiar, o projeto foi idealizado e levado à plataforma de streaming da Globo por Ivanir dos Santos - Babalawô, Prof, Pós-Doutor do Programa de pós-graduação em História Comparada da UFRJ e fundador do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP). Ivanir, atuante há mais de 40 anos em prol das liberdades, dos direitos humanos, das pluralidades contra o racismo e a intolerância religiosa

 

Carregada de simbolismos, coincidência ou não, a exibição na data de ontem é alusiva ao nascimento do Teatro Experimental do Negro. O TEN nasceu em 13 de outubro de 1944, no Rio de Janeiro, como um projeto idealizado por Abdias Nascimento (1914-2011), com a proposta de abrir novos caminhos para pessoas negras nas artes cênicas e na sociedade brasileira. Buscando assim reabilitar e valorizar a identidade, a cultura e a diversidade da população afro-brasileiro. Além de ser um movimento artístico, o TEN também foi um movimento político e social que buscou centralizar as questões negras como foco principal. Mostrando que é possível fazer da arte um ato de reivindicações e lutas por igualdade e equidade.

 

Chico Regueira e
Ivanir dos Santos
A produção documental, lançada quase oito décadas depois, poderá ser uma das janelas para que outras versões da história das resistências cotidianas. “Esse momento é um passo importante para a nossa comunidade, afinal, você tira o negro da subalternidade e marginalidade como é notoriamente visto e traça a história da luta negra no Brasil, porém, com foco na resistência política, onde conta as históricas que criaram o “aquilombamento”. A série apresenta a base para os outros quatro episódios, fazendo um paralelo de cultura, trabalho, política, religião e educação do ponto de vista negro, enquanto entendemos a história dos movimentos negros no país”, defendeu Ivanir dos Santos.

Para Larissa, grande representante da música negra contemporânea da Bahia e umas das vozes que conduzem a história da série – “Temos que entender sobre a nossa ancestralidade, quais os personagens que fizeram a história, que abriram e construíram espaço para estarmos aqui e agora”.


Todos os envolvidos foram reverenciados no palco antes da exibição: arte, edição, diretores, figurinos, entre outros. Das muitas falas emocionadas, Larissa Luz deu uma quebrada ao soltar a voz com o refrão: “...Sou Zezé, sou Leci, Mercedes Baptista, Ednanci, Aída, Ciata, Quelé, Mãe Beata e Aracy. Pele preta nessa terra. É bandeira de guerra porque eu vi. Se é Conceição ou Dandara. Pra matar preconceito, eu renasci...”, música: “Pra Matar Preconceito” (de Raul Di Caprio e Manu da Cuíca), nessa hora, um único coro tomou conta do teatro.

 

Ivanir abordou que “Resistência Negra” é uma mistura e fez um comparativo - “Basta lembrar do filme ‘Faça a Coisa Certa’, do Spike Lee, a frase do Djonga ‘Fogo nos Racistas” e com Buena Vista Social Club”. Um elo interessante sobre a obra-prima de Spike Lee, que consegue levantar questões complexas sem maniqueísmos, entre a contemporaneidade no célebre trecho da música ‘Olho de Tigre’, de autoria do rapper mineiro com os veteranos músicos, formado nos anos 90 em Cuba.

 

"Que honra ser uma trabalhadora operária desse momento tão importante no audiovisual e sociedade brasileira", declarou Samantha Almeida, diretora de Diversidade e Inovação em Conteúdo.

Larissa Luz, Ivanir dos Santos e
Mayara Aguiar
Recheado de emoção, ao fim da exibição, uma surpresa para o grande público: um mini documentário em homenagem à Abdias Nascimento, que abre com uma declamação de “Padê de Exu Libertador”, poema de Abdias, tendo em seguida os bastidores do processo de suas expressões artísticas do militante negro. Mergulhando na obra do baluarte e Emerson Rocha, em uma mostra do conceito de sankofa, uma conexão entre o futuro com o passado. As telas de Abdias estão na abertura da série, transbordando de cores, muitas referências ancestrais e espirituais.

Dos muitos convidados, Claudia Vitalino, atuante do Movimento Negro e Mulheres Negras, Joel da Educafro, Patrícia Rodrigues - coordenadora do projeto "Casa da Mulher Sambista", Pollyne Avelino, do expressivo movimento Wakanda in Madureira, Erick Bretas (TV Globo), Tânia Amorim - umas das idealizadoras do documentário sobre Bangbala "Que eu Receba Riqueza”, Paulo Lins, escritor e roteirista, Deputada Martha Rocha, Luiz Fernando Nery (Petrobrás), Ele Semog (CEAP), Natanael Firmino - PCdoB RJ, Lua Miranda, Elisa Larkin Nascimento (viúva de Abdias Nascimento), entre outras diversas referências negras.

 

Dom Filó, jornalista, produtor e documentarista, alega - “Esse trabalho, resistência é memória, faz com que nossa história seja contada e feita por nós, isso é fundamental”.

 

“Essa série é fruto de muito trabalho, de muita pesquisa e estudo. De um desejo muito grande de contar essa história, que as pessoas conheçam essa história”, declarou a roteirista Mariana Jaspe. Devidamente corroborado por Rafael Dragaud (TV Globo) - “Eu acho que a gente não tem a menor ideia de onde essa mensagem pode chegar, principalmente porque ela está chegando agora, finalmente, para o público que foi destinada”.

 

Lideranças Negras
Uma palinha do “Resistência Negra”, foi apresentado, os outros episódios serão exibidos no Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro, no Globoplay. Vale conferir, certo que será de grande validade histórica. "Hoje, as narrativas negras têm ressoado, mas nossos passos vêm de longe, há uma história que não foi contada sobre nós mesmos. São construções ricas e conscientes", defendeu o Prof. Ivanir dos Santos, que é também interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) e Membro da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN).

 

segunda-feira, 2 de outubro de 2023

Ancestralidade, Espiritualidade e Arte

Por Fábio Seabra

 

Foto: Acervo Pessoal
Definição formal de:

-Ancestralidade se refere aos antepassados ou antecessores. O que se recebeu das gerações anteriores; hereditariedade. 

-Espiritualidade pode ser definida como uma "propensão humana a buscar significado para a vida por meio de conceitos que transcendem o tangível, à procura de um sentido de conexão com algo maior que si próprio". A espiritualidade pode ou não estar ligada a uma vivência religiosa.

-Arte é uma forma de o ser humano expressar suas emoções, sua história e sua cultura através de alguns valores estéticos, como beleza, harmonia, equilíbrio.

AGORA OS MEUS CONCEITOS SOBRE ESSA MISTURA, TOMANDO COMO EXEMPLO UMA DAS CULTURAS QUE VIERAM PARA O BRASIL, O POVO YORUBÁ, DENTRE TANTAS COMO O POVO BANTU (CONGO/ANGOLA) E OS FON BGE, CHAMADOS DE JEJE (ESTRANGEIROS) PELO POVO YORUBÁ. SEM CITAR OS MULÇULMANOS E INÚMEROS OUTRO POVOS.

Para começar vamos discorrer sobre a cultura Yorubá, muito resumidamente. 

É uma cultura rica e com bases na ancestralidade, originária de determinadas regiões da Nigéria e que também exerceu influência em muitas outras partes da África e do mundo. Ela possui uma forte conexão entre antepassado, espiritualidade e arte. Vamos explorar como esses elementos interagem na cultura Yorubá:               

Começando por Ancestralidade, os chamados Egungun:

Os Yoruba têm um profundo respeito pela ancestralidade. Eles acreditam que seus predecessores desempenham um papel significativo em suas vidas e através do culto aos ancestrais, chamados de Egungun, que são os espíritos dos mortos, os quais honram e se comunicam frequentemente pedindo conselhos e orientações. Isso é feito através de cerimônias, danças e rituais específicos.

A arte desempenha um papel crucial nesse formato de culto, uma vez que máscaras e trajes elaborados são frequentemente usados durante as cerimônias de invocação, além dos cantos e danças que fazem parte da ritualística.

Atrelados aos ancestrais estão sua religiosidade que é ligada ao culto dos Orixás e Ifá, cumprindo cada um o seu papel na sociedade religiosa e como um todo:

A espiritualidade Yorubá é central para sua cultura e está ligada ao dia a dia do povo. É social, é política e é uma expressão, forma, de vida. Ela envolve a adoração de divindades conhecidas como Orixás, que representam forças da natureza, elementos e aspectos da vida humana.

O sistema oracular se chama Ifá, mas temos também os búzios e os obis, variando de família para família, de região para região, onde o culto apresenta suas particularidades. Tudo isso é parte importante da espiritualidade Iorubana. O oráculo é usado para buscar orientação divina e é conduzido por sacerdotes chamados babalawos (oluwo).

A arte, também nesse caso, desempenha um papel significativo na representação visual dos Orixás e divindades, pois, esculturas, pinturas e máscaras frequentemente retratam essas entidades.                   

Na Arte Yorubá que se produz é, basicamente, escultura de madeira, ferro ou argila, dança, música, joias e tecelagem sendo todas elas altamente valorizadas, pois compõem uma forma de expressão espiritual. São criadas com grande habilidade e significado simbólico.

A dança é parte integrante da expressão artística e espiritual dos Yoruba. Rituais dançantes são realizados em honra aos Orixás e durante cerimônias importantes.

A tecelagem é outra forma de arte importante nessa cultura e culto. Tecidos coloridos e padrões complexos são usados em trajes cerimoniais e, frequentemente, comunicam status social e identidade. A arte é usada para representar os deuses e espíritos, bem como para honrar os antepassados. A espiritualidade é incorporada à vida diária desse povo onde se obtém uma rica fusão de religião, ancestralidade e arte. 

AGORA FALEMOS DE BRASIL 

O Candomblé:

É uma das religiões afro-brasileiras mais influentes e significativas que emergiu da diáspora africana no Brasil. Sua formação envolveu a fusão de diversas tradições religiosas africanas, que foram trazidas pelos escravos e, ao longo do tempo, fundidas em uma religião única. O Candomblé, essa religião tradicionalmente brasileira, teve e continua a ter, um impacto profundo em várias áreas da cultura brasileira, deixando um legado significativo para a sociedade como um todo, que são vastos e abrangem diversas áreas, incluindo: música, dança, religião, culinária, linguagem, arte e muito mais.                      

Cultura e Identidade:

O Candomblé desempenhou um papel fundamental na preservação da identidade cultural dos afro-brasileiros. Ele ajudou a manter vivas as tradições, línguas, músicas, danças e mitos africanos que foram trazidos para o Brasil durante a época da escravidão.

A religião também contribuiu para a valorização da beleza negra e da herança africana, promovendo uma maior autoestima entre a comunidade afro-brasileira

Política e Ativismo:

O Candomblé, historicamente, foi alvo de perseguição e discriminação no Brasil, e ainda o é. No entanto, essa perseguição levou à formação de movimentos de resistência e ativismo por parte dos praticantes do Candomblé e de outros grupos afro-religiosos e mesmo aqueles que não possuem envolvimento com a religião, encontram nela argumentos de valorização da cultura preta em geral.

Hoje em dia, o Candomblé e outras religiões afro-brasileiras como a Umbanda, Quimbanda, Batuque, Xambá, Xangôs, Jurema, entre outras, desempenham um papel importante na luta contra a intolerância e o racismo estrutural.

Por ser o Candomblé uma religião que valoriza a conexão com os espíritos, a natureza e, principalmente, a ancestralidade, o que se perdeu durante o período do tráfico negreiro entre os séculos XVI e XIX, foi ludicamente, resgatado através da cultura de terreiro. Esse fato acabou por influenciar a religiosidade de muitos brasileiros, mesmo aqueles que não são praticantes do Candomblé, mas encontram nele as referências ancestrais que lhes foram roubadas.

Arte e Expressão Cultural:

O Candomblé é conhecido por suas cerimônias com rituais vibrantes, dançantes, musicais e com trajes alegres e coloridos, transbordando ludicidade. Essas expressões artísticas influenciaram a cultura brasileira como um todo, contribuindo para a riqueza e diversidade do cenário artístico do país.

Muitos artistas brasileiros, tanto na música quanto nas artes visuais, incorporaram elementos do Candomblé e da cultura afro-brasileira em suas obras, por muitas vezes até mesmo sem se darem conta.

Em resumo, o Candomblé e outras religiões afro-brasileiras formam um legado profundo e duradouro na cultura brasileira. Eles influenciaram a forma como os brasileiros percebem sua própria identidade, contribuíram para o ativismo em prol dos direitos civis e da igualdade racial, moldaram a espiritualidade e a religiosidade no país e enriqueceram a cena cultural e artística do Brasil. Esse legado é parte preponderante na herança cultural do Brasil e continua a desempenhar um papel vital na construção da identidade nacional.

P.S.

No Brasil, as religiões de matriz africana desempenham um papel significativo na vida cultural e espiritual do país. Algumas das principais religiões de matriz africana no Brasil incluem:

·         O Candomblé é uma das religiões de matriz africana mais antigas e influentes no Brasil. Originou-se na região da Bahia e é mais comum nas Regiões Sudeste e Nordeste do país. Os praticantes do Candomblé adoram divindades conhecidas como Orixás, N’Kisis e Voduns, para os quais realizam rituais complexos que envolvem danças, cânticos, oferendas e possessões espirituais.

·         A Umbanda é uma religião sincrética que mistura elementos do Candomblé, do Espiritismo, do Catolicismo, do Xamanismo dos povos originários, cultura cigana, ... . Ela é praticada em todo o Brasil e é conhecida por sua ênfase na incorporação de espíritos benevolentes chamadas de "guias" durante cerimônias religiosas.

·         A Quimbanda é uma religião que compartilha algumas semelhanças com a Umbanda, mas muitas vezes é associada a práticas mais voltadas para o culto de entidades mais ligadas a causas terrenas e mais parciais, associadas, ERRONEAMENTE, a figura do Orixá  Exu dos Yoruba. Ela é menos difundida e mais estigmatizada do que o Candomblé e a Umbanda.

·         O Batuque é uma religião afro-brasileira praticada, principalmente, no Rio Grande do Sul. Ela tem raízes africanas e, também, incorpora elementos indígenas. Os praticantes do Batuque adoram divindades conhecidas como Orixás e realizam rituais que envolvem danças e música.

·         O Tambor de Mina. Esta religião é encontrada principalmente no estado do Maranhão. Ela é uma forma de religião afro-brasileira que envolve rituais com tambores e cânticos em homenagem aos Orixás, Voduns e espíritos ancestrais.

·         O Xangô do Nordeste é uma variante do Candomblé que é praticada principalmente na região nordeste do Brasil. Ele adora os Orixás e tem suas próprias características distintas e tradições. 

Além das religiões mencionadas acima, existem cultos afro-brasileiros menos conhecidos e regionais, muitos dos quais são praticados em comunidades específicas em diferentes partes do Brasil. 

É importante notar que as religiões de matriz africana no Brasil, frequentemente, se entrelaçam com outras religiões e práticas espirituais, criando uma rica tapeçaria de tradições sincréticas. Além disso, essas religiões desempenharam um papel significativo na preservação da cultura africana no Brasil e na promoção da identidade afro-brasileira.