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sábado, 5 de setembro de 2020

Te Pergunto: Até Quando?

Por Conceição Gomes

Foto: Reprodução Instagram
Cutucando a ferida! Assim percebi AD Junior nesta semana. O Blogueiro, Vlogueiro, Jornalista Digital, Ativista Social e apresentador do Trace Trends Brasil usa o humor sarcástico para falar coisas importantes e relevantes, o antigo deboche, e o usa magistralmente para nos fazer refletir e lembrar de atos passados e/ou pessoas que caíram no esquecimento.

O Brasil, definitivamente, é o país dos esquecidos. Propositalmente e literalmente, ou não!

AD provocou minha reflexão e memória com duas postagens no instagram de forma bem aguçada, e, para fechar a semana, uma notícia e pedido de adesão a um abaixo assinado foram a gota d’água para esse texto.

Sobre a atitude violenta, geralmente, não generalizando, dos policiais no Brasil. E quando AD faz a descrição, a tipologia desses servidores, é uma constatação triste e ao mesmo tempo profundamente esclarecedora para quem ainda tem dúvidas sobre racismo estrutural, neocolonialismo e lavagem cerebral de massa através do poder, religião e educação doutrinária. Aliás, uma boa dica sobre educação doutrinária é ler “A Educação na Alemanha Durante o Terceiro Reich e Seu Papel na Doutrinação das Crianças e Jovens” de Gabriele Alves Vicente e Marcos Antônio Witt.

Um trecho da postagem diz: ‘...muitos dos nossos algozes, quase sempre vieram do mesmo lugar que a gente. Que eles sabem quem somos e que eles consomem a nossa cultura... Vocês estão mais próximos da gente e são mais parecidos conosco, do que com o sistema que vocês juraram proteger.’

A reflexão é sustentada na pergunta que AD faz: ‘Você conhece algum filho de rico que sonha em ser policial?’. 

Honestamente, tenho apenas conhecimento de alguns jovens classe média, claramente estimulados por games americanos, que integraram as Forças Especiais Policiais (CORE, BOPE, SOE etc.). Salve Capitão Nascimento!

Sobre o Ginasta Ângelo Assumpção, o mini currículo do atleta de 24 anos passeia por: Campeão da Copa do Mundo de Ginástica Artística, Tricampeão Sul-Americano, Hexacampeão Brasileiro Individual e por Equipe. E, com tudo isso, o cara está DESEMPREGADO. Aí, você pode estar pensando – ‘Ah! Mas, o Brasil inteiro está passando por isso.’ Ok. Porém, vamos saber o porquê?

Resumidamente, Ângelo foi alvo de comentários racistas em um vídeo por seus companheiros de equipe, no Snapchat de Arthur Mariano, em 2015. Rolou suspensão, processo etc. Entretanto, os abusos não pararam em 2016 quando o STJD arquivou o processo. Por ser bolsista, não associado do Clube Pinheiros, e não expressar gratidão por sua classificação social, os ataques continuaram.

E, em 2019, ao se queixar com a diretoria do clube sobre essas ações racistas dos técnicos e colegas de profissão, foi suspenso, e ao fim da suspensão sua carta de DEMISSÃO chegou. Se bateu curiosidade sobre os detalhes, procure na internet e deixe de preguiça, rs.

Neste momento em que o assunto ‘antirracismo’ está sendo referenciado nas mídias e redes de forma assídua, com hashtags, telas pretas, acredito ter chegado a hora de pô-lo em prática. Cadê o clube que vai colocar a cara na janela e comprar essa briga? Qual empresa vai assumir a postura antirracista e patrocinar Ângelo?

Fechando a conta da semana, recebo e vejo várias mensagens e posts sobre o musicista Luiz Carlos Justino, integrante do projeto ‘Orquestra de Cordas da Grota’ (Grota é uma comunidade em Niterói). * O violoncelista, negro, foi parado em uma blitz no Centro de Niterói e preso. Contra ele havia um mandado de prisão por um crime a mão armada que ele teria cometido em 2017, na Vila Progresso.

Luiz Carlos Justino - Foto: Mariana Gama

Contudo, existe comprovação em foto e vídeo de que no momento do crime, Luiz estava trabalhando, se apresentando no Le Dépanneur Delicatessen, em Piratininga – Niterói. Se você quer ter um pouquinho mais de comprovação sobre Luiz Carlos, a Orquestra de Cordas da Grota e Le Dépanneur tudo junto e ‘mixturado’ leia essa matéria publicada no Extra, de 24/03/2017, por Wilson Mendes. https://extra.globo.com/noticias/rio/musicos-de-comunidades-carentes-fazem-sucesso-com-violinos-violoncelo-21107957.html

Mediante a mais uma ação sem a prévia investigação, os amigos e parentes temerosos com esta nossa justiça tão precisada de ajustes em sua balança, criaram um abaixo assinado na tentativa de dar visibilidade ao caso e, assim, resolvê-lo o mais rapidamente possível.  

Luiz Carlos Justino (RJ), Rafael Braga (RJ), Gabriel Silva Santos (BA), Leonardo Nascimento (RJ), Vinicius Romão da Silva (RJ), Matheus Fernandes (RJ), Gabriel Souza (SP), Marcelo Dias (SP) ... Esses nomes são de homens, jovens pretos, que foram presos injustamente ou sofreram injúrias na internet. Evitei os assassinatos para não ser acusada de estar fazendo mimimi ... São atores, dj’s, fotógrafos, musicistas, gays, estudantes, moradores de rua ...

São pessoas. São HUMANOS. “Humano” vem do latim HUMANUS, relacionado a HOMO, “homem”, e HUMUS, “terra”, pela noção de “coisas terrestres”, em oposição a “seres divinos”, de uma raiz sânscrita MAN, “homem”.

A definição de humano pode ser escolhida como substantivo masculino: Homem; o ser humano; o indivíduo que pertence à espécie humana. Ou como adjetivo: Relacionado com o homem, indivíduo dotado de inteligência e linguagem articulada, pertencente à espécie humana.

Perceba que em nenhum dos casos acima cores, credos ou sexualidade estão relacionados. Embora, todos esses elementos sejam fundamentais para uma ação, considerada pelo ator que a comete, como justa, ou no mínimo, preventiva.

Segue a pergunta: Até Quando? Esta será a minha hashtag sobre esses assuntos de agora em diante #TePerguntoAteQuando.

Chadwick Boseman

The Black Panther lives! Wakanda Para Sempre!


* P.S.: Uhuuuu!! Boa notícia!! Luiz Carlos Justino foi solto. Trechos da sentença do juiz de plantão que acolheu o Habeas Corpus:

 " percebe-se que no mesmo dia a vítima registrou o fato e já lhe foi apresentado um álbum de suspeitos. Se este álbum não foi constituído de uma prévia investigação sobre os fatos, o que levou a supor que certos indivíduos possam ter participado do crime, este álbum de suspeitos só pode significar na acepção do Dicionário Aurélio, um álbum de pessoas ´que inspiram desconfiança´. Indaga-se: por que um jovem negro, violoncelista, que nunca teve passagem pela polícia, inspiraria ´desconfiança´ para constar em um álbum? Como essa foto foi parar no procedimento?"

"Com efeito, se de um lado temos um jovem violoncelista, sem antecedentes, com amplos registros laborais, com formação em Música por anos, sendo dotado de sofisticados conhecimentos decorrentes de sua formação musical, como domínio sobre leitura de partituras, músicas eruditas e técnicas de solfejar; que é bem quisto pela comunidade, tudo conforme documentos; e, de outro lado, temos um relatório policial que não explica como sua foto constou do álbum sem que houvesse uma investigação prévia, esta incongruência fragiliza a utilização do reconhecimento para sustentar uma prisão cautelar, vez que não há documentação da cadeia de custódia da prova. Em resumo, um suspeito sem investigação prévia, que já é apresentado em um álbum no ato do registro da ocorrência, é um suspeito que precede o próprio fato. É uma espécie de suspeito natural."

" Saliente-se que a liberdade do acusado ao longo desses dois anos não gerou qualquer problema para a sociedade, pois não responde a qualquer outro crime, sendo que a única organização de que se tem notícia a que o mesmo pertence é uma organização musical. Ao que parece, ao invés de gerar perigo, nesses 03 anos, vem promovendo arte, música e cultura."

Parabéns, Meritíssimo/ Excelentíssimo Juiz!!!